Do ATUAL
MANAUS – Os candidatos homens têm 2,5 vezes mais chances de serem eleitos do que as mulheres, diz o estudo “As chances de ser eleito: branquitude e representação política”, do Observatório da Branquitude, publicado nesta segunda-feira (9).
“Quando vemos que mais de 60% da Câmara são deputados homens e brancos, vemos que o destino do dinheiro influencia muito nesse resultado. E esse dinheiro continua sendo alocado a sujeitos que são beneficiados historicamente”, disse a pesquisadora do Observatório, Nayara Melo, em entrevista ao programa Bem Viver, da Rádio Brasil Atual, desta segunda-feira, em São Paulo.
Para chegar à conclusão, a entidade analisou questões de raça/cor, gênero e financiamento para deputados federais eleitos nos anos de 2018 e 2022 com base em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Os resultados obtidos foram trabalhados por meio da análise de chances, que apresenta a probabilidade de um evento acontecer ou não.
“A análise das chances é feita através de um modelo em que colocamos uma variável ‘ser eleito/não ser eleito’ e vamos juntando várias outras variáveis que podem empurrar esse candidato a ser eleito. Com os resultados, as variáveis que tiveram maior impacto para eleger o candidato foram financiamento e gênero”, diz Nayara Melo.
Segundo ela, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Anistia, que perdoa multas de partidos que descumpriram lei eleitoral sobre cotas, é um dos eventos políticos que motivaram a realização da pesquisa.
“A realização dessa pesquisa teve muito a ver com o trâmite da PEC da Anistia. Era uma lei que beneficiava candidaturas de pessoas negras e mulheres, né? Mas com o andamento da PEC, resolvemos pensar o quanto essas leis estavam sendo efetivas”, diz.
O estudo também constata que os esforços para ampliar as oportunidades entre candidatos negros ainda são insuficientes. Isso ocorre mesmo diante do aumento de candidatos autodeclarados pretos e pardos em 2022 e da diminuição do número de candidatos declarados brancos em relação a 2018.
A pesquisa revela que entre os partidos com maior representação negra estão o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e o PROS (Partido Republicano da Ordem Social) que, embora tenham a menor bancada na Câmara, apresentam mais da metade de deputados eleitos pretos e pardos, 66,67% e 66,67%, respectivamente.
Todos os candidatos a deputado federal eleitos pelos partidos PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), PSC (Partido Social Cristão), Cidadania e Novo se declararam brancos.
O PL (Partido Liberal) e o PT (Partido dos Trabalhadores), que são antagônicos e possuem maior representação na Câmara dos Deputados, se assemelham em um ponto: mais de 70% de seus candidatos eleitos são brancos.
Recursos
Sobre a distribuição dos recursos (Fundo Especial de Financiamento de Campanhas e Fundo Eleitoral), inserindo a variável gênero, além de raça/cor, de um total de R$ 2,829 bilhões, os candidatos homens brancos foram os maiores beneficiados, recebendo 44% do total.
A verba destinada para os grupos subrrepresentados (homens e mulheres negras) é inferior ao percentual de candidatos: homens negros somam 30,20% do total e receberam 23,42% da verba, e entre as mulheres negras, esses números são 18,08% e 14,34%.
O contrário acontece com os candidatos brancos (homens e mulheres) que acessaram um quantitativo maior de verba que o percentual de candidatos: os brancos eram 33,81% dos inscritos e receberam 44,05% dos fundos, e as brancas, 16,30% e 17,17%, na mesma ordem.
“Se observarmos o decorrer da história nas eleições no Brasil, vemos que há uma inclusão tardia de pessoas negras e de mulheres nos pleitos. Ao visualizar os resultados que temos para deputados federais, conseguimos ver essa discrepância entre um país de maioria populacional negra e uma Câmara branca”, diz Nayara Melo.