Do ATUAL
MANAUS – Os deputados estaduais Daniel Almeida (Avante) e Felipe Souza (PRD) protagonizaram um bate-boca no plenário da Assembleia Legislativa do Amazonas na manhã desta terça-feira (10). A gritaria começou quando Daniel, que criticava o Governo do Amazonas, pediu para que Felipe, que atacava a prefeitura, calasse a boca. No final, ambos se chamaram de “moleque”.
Momentos antes do bate-boca, Daniel, que é irmão do atual prefeito David Almeida (Avante), candidato à reeleição, chamou o governador Wilson Lima (União Brasil) de “traidor” por não cumprir acordos firmados em 2021. Felipe, que é líder da base governista, propôs abrir uma CPI para investigar os R$ 900 milhões que o governo enviou para a Prefeitura de Manaus.
“Nunca teve um acordo por parte do governo com a prefeitura. Sempre houve acordo por parte da prefeitura. Nós cumprimos com nossos acordos e sempre que demos a palavra sustentamos a palavra. Nunca traímos ninguém e não temos nenhuma apropriação para ser judas traidor como o governador Wilson Lima tem se mostrado”, afirmou Daniel.
Nas últimas semanas, David e Wilson, que eram aliados na eleição de 2022 e que agora são de grupos adversários, têm feito uma guerra de informações sobre os repasses de convênios firmados em 2021 para obras na capital. David alega que o governo deve R$ 140 milhões. Wilson afirma que já repassou R$ 900 milhões para a prefeitura.
Nesta terça-feira, após ouvir a reclamação de Daniel, Felipe pediu aparte e passou a atacar o prefeito. O líder do governo disse que Wilson apoiou David na eleição de 2020 e que em 2022 o prefeito “pagou a conta”. Felipe também relembrou reportagens que associaram o prefeito à facção criminosa e disse que a prefeitura não presta contas do dinheiro repassado pelo estado.
“Falar que não tinha acordo, que sempre foi cumprido de lá pra cá? Quem foi que passou o dinheiro? Foi a prefeitura para o estado ou o estado para a prefeitura? Foram R$ 900 milhões. Agora nem prestar conta do recurso a prefeitura presta. Cadê as 10 mil ruas que a população estava esperando? O [Parque] Gigante da Floresta foi feito com recurso do governo”, disse Felipe.
O líder do governo propôs fazer uma CPI para investigar os repasses por suspeita de “mal uso de recurso público” pela prefeitura. “É isso que nós devemos fazer”, afirmou Felipe, que foi interrompido por Daniel: “Vamos fazer a CPI da Sema, pois tem mães pedindo fraudas e sumiu R$ 119 milhões de dinheiro de fraudas da Sema”.
Os dois passaram a falar ao mesmo tempo e Daniel disse: “Eu estou falando! Cale-se! Cale-se!”. Felipe respondeu: “Vem calar! Vem calar, rapaz!”. Daniel ironizou: “Ê, rapaz. Esse é brabo!”. Felipe continuou: “Me respeita, rapaz! Me respeite! Você me respeite. Me trate com respeito que eu não estou lhe desrespeitando. Trate com educação e respeito”.
A discussão entre os dois só terminou quando a deputada Alessandra Campelo (Podemos), que presidia a sessão, cortou o áudio dos microfones. Antes, ela pediu para que os colegas se acalmassem, mas eles continuaram a gritar e se chamaram de “moleque”. “O senhor é um moleque!”, disse Daniel. “Moleque é você!”, rebateu Felipe.
“Os dois estão gritando, deputado Daniel! Vamos permitir a fala do deputado Daniel. Eu gostaria que o senhor também, deputado, não ficasse provocando com palavras, às vezes, ofensivas os colegas que estão aguardando o seu momento de dar aparte. E vice-versa. Vamos manter a civilidade”, disse Alessandra, que passou a ser alvo do deputado.
Daniel pediu que Alessandra mantivesse a ordem e a deputada afirmou: “É difícil, né, deputado. Imagine nós, mulheres, que somos cortadas o tempo todo…”. Daniel interferiu: “Ahhhh….”. Alessandra rebateu: “Ahhh o quê, deputado?”. Daniel continuo: “Vítima, não, deputada. Vítima não. A senhora é presidente. Não se vitimize”. Ambos passaram a discutir.
Alessandra disse: “Deixa eu lhe dizer uma coisa”. Daniel interrompeu: “Eu estou falando. É meu tempo de falar, deputada”. Alessandra continuou: “Eu estou presidindo a sessão e eu posso falar. Quero lhe dizer uma coisa”. Daniel insistiu: “Respeite meu tempo, por favor”. Alessandra: “Me respeite. Eu não tenho nada a ver com seus problemas por conta dos problemas da prefeitura”.
O deputado do Avante disse que a colega estava “nervosa” e Alessandra rebateu: “O senhor me respeite. Aqui o negócio é diferente. Me respeite. Não estou me vitimizando. Não venha com esse discursinho pra cima de mim. Corte o microfone do deputado Daniel. Eu, deputada Alessandra Campelo, eleita no terceiro mandato, estou presidindo a sessão, e o senhor me respeite”.
Após alguns segundos, Alessandra disse que iria abrir o microfone para Daniel, mas pediu que ele falasse com respeito. “Agora o tempo vai voltar ao senhor para falar com respeito. Se não falar com respeito, eu vou cortar de novo. O senhor vai ter que aprender a respeitar uma mulher parlamentar. Aprenda a respeitar”, disse a deputada do Podemos.
Ao ter o tempo restabelecido, Daniel discursou a favor da pauta das mulheres, mas disse que “tem pessoas que usam essa causa para se vitimizar e para se promover”. Ele cutucou Alessandra: “A senhora precisa, na sua causa, defender as mães que estão há cinco meses sem receber do governo do estado, que estão passando fome pedindo cesta básica. Vá lá com elas”.
Daniel também voltou a criticar Felipe Souza por defender o governador Wilson Lima e propôs fazer o prêmio “cara de pau” para os parlamentares que defendem o governo. “Eu fico admirado com o deputado Felipe, que tem a coragem de defender o pior governo do estado”, disse o deputado do Avante.
“O pior governo do Brasil. Um camarada que deixou a saúde aos frangalhos, incompetente que não construiu uma obra, que não terminou sequer o que estava construído pelo Amazonino, que é o Hospital de Sangue. Aí o cara defende um governador desse. É muita cara de pau defender o pior”, afirmou Daniel.
Alessandra pediu aparte, mas o pedido foi negado por Daniel, que declarou: “Não concedo, não, para a senhora. A senhora falou muito. Não concedo. Já falou demais. Já falou até o que não devia”. Alessandra respondeu: “É bem a sua cara mesmo. Vocês não tem coragem de enfrentar e não vai conceder aparte. Então, fique aí no seu monólogo”.
Os deputados Rozenha (MDB) e João Luiz (Republicanos) defenderam a Alessandra. “Eu acredito que baixar o nível, não permitir que uma mulher o aparteie, tentar cercear os colegas de falarem no tempo que são deles, isso é ruim, porque não faz parte da dinâmica de um parlamento”, afirmou Rozenha.